terça-feira, 9 de novembro de 2010

“Pensá-lo bien antes de dar esse passo...”

A minha vida é de tal maneira criada e regida pelos sonhos, que se vivo apenas a realidade me desconheço. Para desencadear o caminho da realidade na qual andará o sonho, tem que haver um starte, um ponto de partida na própria ficção. Por exemplo, há bons meses atrás, eu sentia que já era hora de fazer uma grande faxina na minha casa. Faço isso pra valer umas três vezes por ano em média. Mas naquela vez, a coisa não andava, prefiro escrever e as coisas vão ficando. Até que um dia acordo com a vizinhança batendo desesperada na minha porta, enquanto vou percebendo o barulhinho de uma cachoeira. Quando saio da cama, me dou conta de que ela é uma ilha cercada de tudo o que estava no solo boiando em volta. Almofadas, livros, brinquedos, peças de roupa, e tapetes submersos. Uma tênue quase onda duns três centímetros vagava por aqui enquanto a chuva caia lá fora. Ainda zonza, quase adivinho, pela direção da qual a água vinha, que tratava-se do bueiro da cobertura, que não estava dando conta. Algumas folhagens que caíram com o vento haviam fechado a boca de saída. Esta chuva fora tão forte, daquelas que chove em três horas o que deveria chover por dois meses, que derrubou a primeira casa do morro (moro no sopé do Santa Teresa), na verdade todo um muro da fachada veio abaixo, e a casa ficou em suportes, parecendo um esqueleto exposto, por meses, até os caras corrigirem o problema.
Depois de sanar o fulcro, me atraquei a levar tapetes lá para fora e saí organizando e pondo tudo para secar, até que... acabei fazendo a tal faxina quase sem sentir. A casa fora total e completamente lavada, em lugares que eu jamais sonhara. E pela água da chuva, que é uma água limpa e sagrada.

Agora estou vivendo um momento muito complicado, pois preciso me mudar. Justamente no meio de duas, talvez três obras literárias com relativo prazo de entrega. E mais tratamentos médicos e uma pá de coisas a serem resolvidas. Pretendo em breve emigrar, e preciso organizar essa parte do que vou levar agora e do que vai ficar para ser pego a curto, médio e longo prazo. Puta mão. O plano é meter minhas coisas num depósito e sair de mochila e laptop por aí. Tudo o que preciso é dele para escrever, alguns cartões de crédito e money. O rumo é Buenos Aires. Dali, pretendo passar um tempinho no litoral e depois rumar para o Rio, e então só os deuses... Coisa amarrada de começar a fazer. Quando eu pego uma obra, quando consigo mesmo me concentrar, como que tendo de forma onipresente todos ou quase todos os personagens e a formatação dos capítulos, como pretendo conduzir a trama, enfim, não dá vontade de parar para encaixotar meus livros. Recém peguei o pé desse trabalho que estou fazendo, fiquei nas pesquisas até dias atrás.
Então, depois de receber um telefonema que me deixou feliz, no meio de uma tonelada de mazelas, tomo dois ótimos cafés e ponho um cd. Do filme Tango, the first lesson. Puro Buenos Aires. Naquele momento, senti a magia. Entendi tudo. O processo deve se desencadear com algo lúdico, é isto que faz com que eu me ligue a algo. Então, agora... não estarei apenas me mudando, não vou olhar para trás. A partir de agora, comecei a arrumar a minha viagem para Buenos Aires.